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08/08/2019

Representatividade feminina entra em pauta no IAP no mês da advocacia

O protagonismo da mulher na advocacia foi tema de um debate realizado no Instituto dos Advogados do Paraná na última quarta-feira (07/08). O evento reuniu mulheres de destaque no Direito, que dividiram um pouco da sua trajetória profissional para inspirar os presentes.

O debate foi conduzido pela diretora cultural do IAP, Melina Girarddi Fachin, e contou com a participação da desembargadora Regina Helena de Oliveira Portes, do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR); da advogada Rogéria Fagundes Dotti, ex-presidente do IAP no biênio 2010-2011; da advogada Marilena Indira Winter, vice-presidente da OAB Paraná; da procuradora Mônica Louise de Azevedo, do Ministério Público do Paraná; da advogada Sandra Lia Ledo Bazzo Barwinski, vice-presidente da Comissão de Estudos sobre Violência de Gênero da OAB Paraná; e da advogada Mariana Lopes da Silva Bonfim, presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB Paraná.

Na época em que cursou Direito, a desembargadora Regina Helena enfrentou dificuldades causadas pela cultura então vigente em relação às mulheres. Quando foi convidada por René Ariel Dotti, seu professor de graduação, para estagiar em seu escritório, foi impedida por seu pai. “Se você decidir trabalhar, eu vou embora para São Paulo”, contou a magistrada. “Fiquei 19 anos e 5 meses no escritório”, relembra. Como todas as mulheres, a desembargadora também teve dificuldades em conciliar maternidade e o trabalho. “Acho que todas nós sofremos por deixá-los sozinhos para trabalhar”, explicou. A advogada que foi a primeira mulher vice-presidente da OAB Paraná também foi a primeira a presidir o Tribunal Regional Eleitoral e a primeira a integrar o Tribunal da Alçada e o Tribunal de Justiça do Paraná. “A experiência que tenho é a luta e o amor pelo Direito, a certeza por fazer o certo e a verdade de estar agindo corretamente.”

Capacidade de ouvir

O interesse de Rogéria pelo Direito veio do entusiasmo de seu pai ao contar histórias jurídicas durante os almoços em família. Apesar do incentivo, a advogada, na época ainda estudante, sentia-se frustrada por não poder estagiar. “Meu pai nunca me chamava, dizia que a teoria era mais importante e que a prática aprendemos rapidamente”, lembrou. Para Rogéria, o Direito ensinou três lições valiosas: o respeito, a dedicação ao trabalho e o amor. “Nós, mulheres, temos um instinto de cuidado e o cliente precisa ser ouvido. Temos essa capacidade”, observou.

Pioneirismo

“Nós, mulheres, acabamos sendo pioneiras em certas coisas. E qual a responsabilidade que vem com isso?”, questionou Marilena. A advogada ressalta que as mulheres precisam ter responsabilidade em cuidar do que foi construído e trabalhar para aperfeiçoar para que as próximas gerações possam encontrar um mundo mais equilibrado e justo. Para a vice-presidente da OAB Paraná, o papel da mulher na carreira jurídica deve ser sempre valorizado. “Tenho certeza que sairemos transformados quando abrirmos espaço para essa discussão”, destacou.

Rompendo barreiras

Para a procuradora de Justiça Mônica Azevedo, a percepção do tratamento diferenciado das mulheres no ambiente jurídico vem com o tempo. “Há uma dificuldade para a mulher ser reconhecida com sua competência”, afirmou. A procuradora apontou a precariedade com a qual as instituições de Justiça tratam a questão da igualdade de gênero. “Somente em 2012 foi instituído um grupo de estudo de igualdade de gênero no Ministério Público e, apesar de a Lei Maria da Penha estar completando 13 anos, seguimos tratando como algo perturbador e os índices de violência só crescem”, explicou. Mônica elogiou a iniciativa do IAP de abrir espaço para a discussão sobre o papel da mulher na sociedade e sugere que os outros Institutos dos Advogados façam o mesmo. “Não podemos mais fingir que não existe diferença no tratamento às mulheres. O grande desafio é assegurar os direitos que já conquistamos”

Índices preocupantes

Sandra Lia Bazzo Barwinski demonstrou preocupação pelo baixo índice de utilização da Lei Maria da Penha. “A lei não é aplicada porque não aplicamos. É algo emblemático para nós da advocacia, pois nós atendemos e não conseguimos dar as respostas”, disse. A advogada também falou sobre o número elevado de adolescentes grávidas em Curitiba. “Isso é muito sério. Há uma redução considerável de desenvolvimento dessas meninas em relação aos meninos”, afirmou.

Representatividade

“A representatividade do lugar em que estamos, devemos a quem nos colocou lá”, disse a presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB Paraná, Mariana Lopes. “Meu lugar de poder empondera outras mulheres”, afirmou. A advogada, que sofreu violação de prerrogativas, trabalha para que a lei Julia Matos – que garante o respeito às prerrogativas da advogada – seja aplicada em todo o Paraná. “Hoje o alcance dessa lei é maior do que em Brasília, onde foi criada”, explicou. “O que eu vivi não me fez vítima, me fez autora para fazer a diferença”, concluiu.

Durante o evento, o IAP assinou um termo de cooperação com a FEMPAR, para promover o intercâmbio acadêmico e cultural nos temas sensíveis, relevantes e atuais da realidade, tais como a discussão e reflexão para a promoção da equidade de gênero nas instituições de Justiça.

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